literatura revolucionária. Graciliano Ramos. May 22, 1946. Substantivo. /liteɾaˈtuɾɐ ʁevolusjoˈnaɾjɐ/. Produção literária de autores engajados com ideais de transformação social, cuja principal força não reside em um estilo dogmático ou panfletário, mas na capacidade de expor honestamente e sem subterfúgios as misérias de uma sociedade. Category: Artista. Cotext: "Afirmam cidadãos vultosos que no Comunismo não existe ambiente favorável à criação literária; chegando aqui, murchamos, deitamos um pouco de chumbo nos miolos e somos utilizados em serviços módicos: distribuir folhas volantes, bater palmas em comícios, pichar muros. Isso — e nada mais. Afirmação contraditória. Por volta de 1936 esses mesmos cavalheiros impugnaram com vigor os produtos vermelhos. Sem examiná-los, sem declará-los bons ou maus como arte, exigiram simplesmente a prisão dos autores. Chegaram a ver realizados os seus desejos — e hoje não é razoável negarem o que ontem badalaram, numa crítica policial bastante safada. É desnecessário asseverarmos que o Partido Comunista nenhum dano causa à produção literária. Inútil exibirmos figurões do exterior, engrandecidos pela distância: mostremos apenas a gente que aqui está. Nada de queimar incenso à toa. Estes homens e estas mulheres recusam lisonjas, mas provavelmente os nossos opositores gostariam de tê-los ao seu lado. E se pensam de outra forma, é que o julgamento lá fora é precário. Neste grupo, ainda exíguo, há escritores que se revelaram em diversos gêneros. Certamente continuarão a crescer, apesar dos agouros ruins espalhados sobre eles. Tolice imaginar que lhes vão torcer as ideias, impor o trabalho desta ou daquela maneira. Foram as ideias que os trouxeram, todos vieram de olhos muito abertos, conhecendo perfeitamente o caminho. Ninguém está aqui por sentimento ou religião.2 E é claro que não haveria conveniência3 em fabricar normas estéticas, conceber receitas para a obra de arte. Cada qual tem a sua técnica, o seu jeito de matar pulgas, como se diz em linguagem vulgar. A literatura revolucionária pode ser na aparência a mais conservadora. E isto é bom: não terão o direito de chamar-nos selvagens e sentir-se-ão feridos com as próprias armas. Afinal para expormos as misérias desta sociedade meio decomposta não precisamos de longo esforço nem talento extraordinário: abrimos os olhos e ouvidos, jogamos no papel honestamente os fatos.". Reference: Ramos, G. Garranchos. Rio de Janeiro: Record, 1984. 378p. p. 259-260.