eleger escritores para a Academia. Graciliano Ramos. Aug, 1938. Fraseologismo. /eleˈʒeʁ eskɾiˈtoɾis ˈpaɾɐ a akadeˈmiɐ/. Prática das academias literárias de selecionar membros não com base no mérito e relevância artística, mas pautado na busca pela segurança institucional e aversão à controvérsia. Category: Academia literária. Cotext: "[...] finou-se de morte natural o senhor conde Afonso Celso e logo em seguida, antes que o cadáver arrefecesse, Peregrino Júnior candidatou-se ao lugar deixado por ele na Academia. [...] É médico e literato, médico inimigo dos charlatães e literato no bom sentido, razão suficiente para ser acolhido numa casa onde existem numerosos médicos e alguns literatos. Certamente estes últimos acharam muitas vezes as portas lá fechadas. Devemos censurar a Academia por isso? Talvez não. Muita gente enche papel para não dizer nada, e é natural que as pessoas sensatas olhem com desconfiança um passatempo inútil. Ora a Academia, gorda, próspera, constituída por homens sisudos, direitos na administração, escrupuliza naturalmente em receber indivíduos que possam comprometê-la. Há muitos que principiaram bem, principiaram até bem demais, são lisonjeados pela crítica e pelos amigos, enquanto não provocam inveja. Se vestirem o fardão, porém, tudo mudará: serão atacados, machucados, rasgados, ou pior, terão elogios em jornais sérios que ninguém lê. Páginas que hoje se buzinam imoderadamente apresentar-se-ão como exemplos de imbecilidade. Natural. [...] É razoável, pois, que a sociedade, usando uma prudente reserva quando a importunam homens capazes de prejudicá-la, tenha preferido certos cavalheiros inofensivos, autores de obras escassas, meio inéditas e, portanto, pouco sujeitas a discussões. Está aí por que homens respeitáveis, absolutamente respeitáveis, são acusados por terem muita gordura e muita idade. Semelhantes botes em regra não causam estrago, pois as letras desses senhores, guardadas com avareza, resistem, permanecem invioláveis. Mas, exatamente por serem letras guardadas, não bastam — e é preciso que se elejam escritores. [...]". Reference: Ramos, G. Linhas tortas. Rio de Janeiro: Record, 1984. 306p. p. 178-179.