contrafação literária. Graciliano Ramos. n.d. Substantivo. /kõtɾafaˈsɐ̃w̃ liteˈɾaɾiɐ/. Estratégia, mercadológica e culturalmente motivada, de apresentar uma obra literária brasileira sob uma falsa roupagem estrangeira, visando superar o preconceito do público nacional em relação à produção nativa e, assim, garantir-lhe credibilidade e aceitação. Category: Mercado editorial. Cotext: "Possuímos excelentes romances que não são lidos. Os críticos garantem a qualidade deles, os editores fazem uma propaganda terrível em jornal e em cartaz, mas os leitores desconfiam e vão direito à exposição dos livros franceses. Senhoras idosas, de óculos, ainda leem o Guarani e choram, mas relativamente aos livros modernos é o que se vê. Falta de público. É essa horrível desconfiança que existe a respeito da mercadoria de casa, desconfiança até certo ponto justificável, originada na banha com água e no feijão bichado. Para combatê-la, o fabricante adotou com êxito a intrujice de apresentar o artigo indígena com rótulo estrangeiro. É um bom processo. Se não temos outro meio de convencer o freguês de que fabricamos coisas boas, por que não nos serviremos da contrafação? Em certos casos ela deveria até ser obrigatória. Nessa coisa de literatura, por exemplo. O governo, se se ocupasse com isso, mandaria passar algumas novelas indígenas para o francês. Talvez elas não fossem vendidas lá fora. Não faria mal. Viria para aqui a tiragem toda. Vendo-as em línguas de branco, o público arregalaria o olho, convencer-se-ia de que estava diante de mercadoria boa e cairia no logro: daria vinte mil-réis por uma brochura que aqui se vende por seis. ". Reference: Ramos, G. Linhas tortas. Rio de Janeiro: Record, 1984. 306p. p. 146.