clareza. Graciliano Ramos. Feb, 1952. Substantivo. /klaˈɾezɐ/. Qualidade do texto literário que garante sua compreensão ampla, evitando-se tanto o purismo gramatical quanto os modismos, que rompem com a tradição da língua para arbitrarem construções obscuras. Category: Linguagem poética. Cotext: "Homens sabidos queimam as pestanas para dizer-nos por que uma palavra se fina sem remédio e outra tem fôlego de sete gatos. Respeitamos esses homens, quando eles metem uma delas no dicionário, respiramos com alívio. Estamos na presença de uma autoridade. No correr do tempo, achamos falhas na autoridade e vamos corrigindo, com hesitações e dúvidas, um ponto, outro ponto. Mas afinal é bom que ela nos oriente. Desejamos saber o que nos diz, embora, depois de refletir, a mandemos para o inferno com muitos desaforos, redigidos, está visto, na sintaxe que abominamos. Enfim paciência. O homem tem rugas e cabelos brancos. Não toleramos é que um novato nos ordene, esquecendo a regra, desrespeito aos frades. Por quê? Os frades não nos fizeram mal e não terem morrido em automóveis, em aeroplanos, não é motivo para que os matemos no papel. Já não existem galeões nem caravelas, mas a gente da minha terra abrasada, população que nem se pode lavar, conserva expressões dos mareantes aqui desembarcados no século XVI. [...] O que não existe, ao sul, ao norte, a leste, a oeste, são as novidades que pretenderam enxertar na literatura, com abundância de cacofonias, tapeações badaladas por moços dispostos a encoivarar duas dúzias de poemas em vinte e quatro horas e manufaturar romances com o vocabulário de um vendeiro. Ninguém por estas bandas, que me conste, usou na linguagem falada preposições em fim de período. Essa construção inglesa não nos dará nenhum Swift. Porque em francês se diz jouer avec, o literato nacional descobre a pólvora escrevendo: “Temos aqui uma coisinha para a gente brincar com.” Tencionarão justificar isso lembrando a sintaxe dos índios, mas a verdade é que não falamos nheengatu, e a composição insensata, alegremente recebida por garotos propensos a conquistar a glória num mês, é falsa. De nenhum modo insinuo que devemos escrever como Frei Luís de Sousa, mas isto não é razão para acolhermos extravagâncias. Nos dois casos há pedantismo e ausência de clareza. E se não conseguimos ser claros, para que trabalhamos? O nosso interesse é que todas as pessoas nos entendam, de vante a ré. ". Reference: Ramos, G. Linhas tortas. Rio de Janeiro: Record, 1984. 306p. p. 276-277.